Cegos surdos e loucos pra derrotar Hitler

Cegos surdos e loucos pra derrotar Hitler

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Durante as guerras grande parte da população masculina se desloca para o combate, isso cria um vácuo no mercado de trabalho que pode ser complicado de preencher, mas por outro lado promove avanços sociais essenciais, por pura necessidade.

A sociedade americana mudou completamente com a Segunda Guerra Mundial, a presença feminina nas indústrias criou toda uma geração de mulheres que descobriram que podiam ter seu próprio emprego, seu próprio dinheiro e ser mais do que uma máquina de parir filho.

Era tarde demais pra elas, quando os homens voltaram da guerra quase todas perderam os empregos, mas as lições apreendidas foram repassadas para as filhas e filhos, o que resultou no Grande Bundalelê dos Anos 60/70.

Uma característica cruel da guerra é que mesmo sendo responsável por gerar milhares de deficientes, eles não são aceitos como combatentes. Não que isso tenha impedido gente especialmente determinada. Na Primeira Guerra Mundial havia um batalhão de engenharia formada por voluntários, todos surdos, especializados em cavar túneis.

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Trabalhadores surdos em Londres, 1ª Guerra Mundial

Gomer Jones foi um recruta que era surdo feito uma porta (nunca entendi essa expressão) e cego de um olho, mas conseguiu passar no exame médico e se tornou um excelente soldado, sendo o melhor atirador de sua companhia, o que pode dizer muito sobre ele ou sobre seus colegas.

Nos Estados Unidos um dos grandes exemplos de integração aconteceu em Milwaukee, quando o Governo Federal contratou a United States Rubber Co. para construir uma fábrica de munições calibre .50.

Aberta em 1943, a fábrica produziu em um ano mais munição do que todas as fábricas americanas produziram durante a 1ª Guerra Mundial. Um jornalista meio sem-noção alardeou que a fábrica tinha produzido munição suficiente para “matar todos os habitantes dos Estados Unidos”.

Uma particularidade: Boa parte das trabalhadoras da fábrica eram surdas.

A iniciativa de contratar deficientes auditivas não tinha nada de coitadismo. A US Rubber já havia feito o mesmo em outra fábrica, com resultados ótimos e adivinhem: O Coronel Arthur M. Wolff, supervisor das operações em Milwaukee era membro do quadro de diretores do Instituto para o Aperfeiçoamento da Educação dos Surdos-Mudos de New York City.

Juntando a fome com a vontade de comer, eles abriram as portas para as meninas, que segundo Wolff eram funcionárias ideais.

“Barulho não as distrai, não ficam de conversa fiada e elas têm determinação férrea pra serem bem-sucedidas no trabalho”

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Sophie Rubin, uma das jovens funcionárias escreveu:

“Nós, pessoas surdas não podemos fazer parte da WAACS ou da WAVES [organizações civis de apoio ao esforço de guerra] então o melhor que podemos fazer é trabalhar nas fábricas militares. Eu estou muito orgulhosa de trabalhar aqui, sob essa linda bandeira americana.”

Surdos não foram o único grupo que ajudou no esforço de guerra. Jovens cegas foram essenciais por causa disto:

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É uma folha de mica, um mineral muito curioso encontrado principalmente na Índia e em ferros de passar roupa. É uma espécie de mil-folhas natural, camadas de silicatos se formam sem muita adesão, então você consegue deslizar as “folhas” apenas com as mãos.

Mica é um excelente isolante elétrico e um ótimo condutor de calor, é usado em milhares e áreas, e na Segunda Guerra Mundial os EUA precisavam desesperadamente de Mica para toda a eletrônica que estavam desenvolvendo em rádios, projéteis e bombas atômicas.

Mais do que conseguir o material, os EUA compravam o know-how dos indianos, e quando conseguiram novos fornecedores, incluindo o Brasil, só recebiam o material bruto.

A Mica precisava ser cortada e separada em camadas de diferentes espessuras. Nenhum processo mecânico era preciso o suficiente, e o jeito era fazer tudo manualmente, usando micrômetros e paciência para separar seis espessuras diferentes de folhas de mica, entre 0.0015 polegadas e 0.004 polegadas.

Um dia alguém da Comissão de Nova Jersey para os cegos sugeriu que tentassem usar uma jovem cega para o trabalho, já que tato e sensibilidade eram muito mais usados no processo do que visão.

Resultado: A produtividade média das jovens cegas era 25% maior do que as trabalhadoras mais experientes com visão funcional. Enxergar apenas atrapalhava e as confundia.

A direção da fábrica pioneira ficou tão entusiasmada que convidou diretores de outras fábricas para testemunhar o trabalho das jovens cegas, que eram altamente qualificadas, ganhando US$56 por semana, contra US$50 das outras.

Corrigindo pela inflação isso dá em valores de 2020 US$834.49 por semana, ou US$3337.96 por mês. Levando-se em conta que em média 70% dos cegos nos EUA HOJE estão desempregados, as meninas não tinham do que reclamar.

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