Talvez não sejamos tão débeis mentais assim

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A declaração do Ziraldo, de que a Internet é o antro do débil mental deixou muita gente irada. As carapuças caíram do céu direto na cabeça de um batalhão de Internautas, que em uma prova de que ele estava absolutamente errado, e o usuário médio de Internet é um sujeito educado, razoável, inteligente e maduro faz comentários (valeu, Luiz) como:

Esse ziraldo é um fdp, pq ele nao vai no meio da negada e fala que só tem babaca na inernet, que só tem isso e aquilo? Vai ser linchado esse cretino..

Quase toda opinião não-polyanna postada na Internet é recebida à bala. Todo, TODO blogueiro já recebeu sua cota de xingamentos. Quase sempre por motivos bestas.

Em um de meus textos mais singelos, onde falo sobre a moda de meninas beijando meninas, da forma mais positiva possível, foi deixado um comentário de uma criatura que classifico como “burra”, na melhor das hipóteses. Ela conseguiu ver preconceito onde mais ninguém viu e ainda me ameaçou, depois de xingar. E meu texto não é um texto irônico, onde pode haver dupla interpretação, como o Morte Aos Gays. (e mesmo assim só se você for muito tacanho) É um texto direto. O comentário da leitora me ofendeu, e olha que isso é algo difícil de conseguir. Não pelo xingamento, mas pela incapacidade dela de interpretar o texto mais simples. E ainda me culpar por isso.

Temos o caso já clássico da “Psicografia“, onde o sujeito posta um conto ficcional e é assolado por gente querendo psicografar cartas de parentes.

Será que o Ziraldo estava certo? Será que o usuário típico de Internet é um débil mental? Se for, o que a Internet fez para atrair tanta gente incapaz?

A Internet não fez nada.

A única coisa que a Internet oferece é uma VOZ para uma maioria antes silenciosa. A culpa na verdade é nossa. Mantemos nossas expectativas artificialmente altas, achamos que todo mundo lê pelo menos 5 livros por ano, faz três refeições ao dia e sabe ler de carreirinha. Achamos que inclusão digital é uma panacéia universal e usar computador torna alguém magicamente inteligente.

Vou contar um segredo: É muito fácil usar um computador. Você compra no Ponto Frio um computador “com Internet dentro”, liga pro Velox, o “ténico” (sic) vem na sua casa, instala tudo, te mostra onde clicar para ligar a Internet, e voilá, estamos online. Usar a Internet é bem mais simples que jogar xadrez e como o Deep Blue provou não é preciso ser inteligente de verdade para jogar xadrez.

O que a inclusão digital está fazendo é colocando mais pessoas comuns online. Pessoas que não são mais inteligentes ou mais burras que outras pessoas sem computador em casa.

Vamos a outro exemplo:

No início da Internet em um de meus livros ensinava a configurar o Netscape para envio de emails. Dava meu endereço e pedia para que o leitor me mandasse uma mensagem de teste.

Eu costumava receber ums 3 emails por dia com a mensagem:

_Oi, tudo bem? Que legal, funciona mesmo, responde aí.

Depois vinha outro:

_Poxa, não vai me responder? Quebra o galho

O final geralmente era:

_Você é um babaca, mascarado, metido, coloca email mas não responde. Morra!

Eu não respondia, pois o email desses usuários vinha de <seu nome> seuemail@seuprovedor.com.br

Era explicado, de forma explícita que os campos deveriam ser substituídos pelos valores fornecidos pelo provedor. Eu colocava esse aviso em um box, no texto E na legenda da imagem do formulário de configuração do Netscape.

Não adiantava. Só uma minoria iluminada lia as instruções e as entendia.

Inclusão digital é uma piada. Hoje temos aprovação automática nas escolas, faculdades onde você compra um diploma à prestação em 24 meses e basta uma redação mal-ajambrada para ser admitido como aluno e gente que se orgulha da própria incapacidade de escrever corretamente. “Se precisar eu escrevo direito, aqui na Internet eu tenho pressa, escrevo vc, tb, naum pq é mais rápido”. Ou então: “O que importa é a mensagem, se vc entendeu, entaum tá bom”

Conheci gente que ao pegar um livro emprestado ia direto para a última página. “é pra saber como termina assim não rola ansiedade, e se for chato já sei como acaba”. Também conheci gente que aos 24 anos de idade só havia lido um livro na vida, e achava natural. Mesmo assim tinha sido “violetas na janela”, e “literatura espírita” é uma contradição em termos.

Somos treinados o tempo todo desde criancinhas para achar as tais elites malvadas e nos identificar com o coitadinho. O brasileiro é o único povo do mundo onde o sujeito fala “sou pobre” com orgulho ou no máximo indiferença. Mas é preciso aceitar, é preciso entender: Você tem um blog, ou freqüenta e lê blogs com assiduidade? Escreve comentários mais consistentes do que os deixados no YouTube no vídeo do Ziraldo?

ele tem é inveja da galera que tem internet e esse merda não tem!

Que babaca ! duvido que ele nunca utilizou a internet!

ta na hora de vc morrer neh velho retardado?

Então, meu caro, tenho uma má notícia: Você é Elite. Isso mesmo. Você é o 1% do 1%.
O consolo (se é que é consolo) é que a Internet não tem nada a ver com isso. Ela é só uma forma conveniente de expressão, mesmo que ela acabasse amanhã essa gente toda continuaria existindo, como sempre existiu. Só estamos hoje tirando a peneira da frente do Sol, vendo com um pouquinho mais de clareza a plebe ignara que cerca algumas ilhas de QI de dois dígitos.

Claro, o pessoal mais polyanna já deve estar indignado, afinal estou ofendendo o internauta, o não-internauta, a população em geral, e só porque 95% se enquadram nas definições apresentadas não é motivo para desqualificar a raça toda. Generalização só vale se 100% dos envolvidos se enquandram na generalização, se quisermos ser politicamente corretos.

Também não é mais um plano corporativista para colocar a panelinha da blogosfera em um pedestal, mostrando o blogueiro como uma criatura super-inteligente, culta e viajada. Convenhamos, não há vantagem de se sentir superior a alguém que escreve sobre o Ziraldo:

Coitado, tá Gagá já, mija no pé e nunca deve ter conseguido ligar um PC, por isso fala essa besteira.

A parte chata é que acaba cansando. Se o blogueiro não tem uma massa crítica de leitores, estatisticamente está fadado a ter muitos desqualificados caindo em seus comentários, pois a quantidade de paraquedistas miguxos vindos do Google é muito maior do que a de leitores legítimos, que costumam vir através de links e referências de outros blogs. Com isso o blog pode morrer ainda na infância, dada a falta de qualidade do feedback.

Se você está começando, tenha paciência, pequeno gafanhoto. Dependendo do que você escrever, pode sofrer uma invasão de miguxos, o que pode ser traumático. Também pode fazer ótimos textos mas só receber comentários inconvenientes. Relaxe, no começo é assim mesmo. O Leo por exemplo está chegando nessa fase. Com alguns meses de vida, logo seu blog se tornará visado pelo Google. Com isso passará pela pior fase de um blog, aquela onde você escreve, ninguém comenta e se comenta é uma ostra. Relaxe, Leo, isso passa.


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