Ziraldo, internet e meias-verdades

Compartilhe este artigo!

Não, Ziraldo não fez uma mea culpa. Ziraldo não mudou uma linha do que falou. Quem mudou foi o sujeito que editou o clipe do YouTube criando uma apresentação completamente virulenta pinçando textos de uma entrevista de mais de uma hora.

Em prol da Verdade, ouvi o áudio completo da mesma, disponível no podcast do Amaury Junior. É uma conversa que passa até por Leila Diniz, com um grande trecho dedicado ao projeto onde Ziraldo tenta estimular o hábito da escrita e da leitura entre as crianças, inclusive propondo a adoção de diários como instrumentos pedagógicos por parte das escolas.

Os trechos onde ele fala sobre a Internet tiveram os elogios sumariamente removidos, na versão que foi “ao ar” na Internet. Acho que não geraria polêmica se junto com “a Internet é o antro do débil mental”, viesse “a Internet é fundamental porque toda a informação TODA está lá. Agora, se você não sabe ler, não tem curiosidade, de que adiante aquele presente dos deuses?”

contraditorium-ziraldo.jpg

Vejam alguns trechos da entrevista:

A gente mata o Brasil de vergonha nessas competições internacionais o Brasil está sempre em último lugar. brasileiro não sabe ler. agora tá essa discussão da promoção automática. Quando é meu Deus que o Governo vai compreender que a nossa deficiência é que o aluno de escola popular não recebe como se pretendia no primeiro método de ensino do Brasil que tinha quatro anos fundamentais e quatro ginasiais depois fazia exame de admissão para entrar no ginásio (…) O princípio era “vou te dar o cabedal pra você estudar”, os quatro primeiros anos não é pra você estudar, é pra dar a muleta, te dar roda, aprender os fundamentos. (…)

Sabe como é que a escola pode fazer a criança escrever sem ser obrigado a escrever, sem ser exigência? Menina adora diário. Olha o sucesso dos blogs. O que é blog? é diário, diário exibido. (…)

Amaury, imagine o seguinte: Você não dá dever para a criança. Os quatro primeiros anos são formativos, não informativos.Informação tá na Internet, tá no Google, tá por aí. Se você não sabe ler você não sabe procurar. (…) Eu não sei qual é a capital da Turquia. Eu entro no Google e pergunto. Agora se eu não souber ler estou perdido. Se você me pedir para amanhã um artigo sobre os gafanhotos do Norte da África eu escrevo pra você. Vou buscar na Internet.

O menino tem que saber ler e escrever, mas tem que ser estimulado. (…) O quê a escola vai fazer? “Toda criança tem que ter um diário”, como parte curricular. Toda noite antes de dormir o menino tem que escrever o diário dele (…) Aí é uma coisa estimulante, o menino narrar a vida. O menino aprende a escrever e aprende a ler. (…)

“Nós não temos o hábito de dar livro de presente. Damos CD, agora DVD, celular. (…) Tanto o celular quanto a Internet… a Internet por exemplo é o antro do débil mental. Só tem idiota na Internet. É uma coisa – o usuário da Internet é um babaca, entendeu? Aquelas mensagens, aquelas piadas que chegam, é tudo de uma indigência… eles escrevem mal, eles têm um mau-gosto terrível, agora, a Internet é fundamental porque toda a informação TODA está lá. Agora, se você não sabe ler, não tem curiosidade, de que adiante aquele presente dos deuses? Não aprenderam a respeitar a palavra, que é o que nos identifica. Começa a escrever “tb” no lugar de também, começa a escrever “vc” no lugar de “você”. Uma linguagem cifrada pra imbecil”. (…) isso é queimar etapas, é chegar na Internet sem passar pelo livro. Tudo passa pelo livro.

Ou seja: Ziraldo reconhece o sucesso dos blogs, acha a Internet uma ferramenta fundamental e lamenta a incapacidade dos usuários em efetivamente usar a ferramenta.

Transformar isso em um ataque genérico e desqualificado só prova que pelo menos UM usuário de Internet – o autor da edição do vídeo- é um débil mental.

Infelizmente para o cidadão em questão, eu sei ler e tenho curiosidade.



Compartilhe este artigo!