Polêmica Artificial do Dia: Site de humor é pra ser levado a sério?

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O Onion é o mais bem-sucedido jornal de humor dos EUA. Começou em 1988 igual ao planeta diário, um tablóide de faculdade, mas como lá há ESCALA, cresceram e hoje são um pequeno império, com programas de TV mega-produzidos, um portal de primeira, etc, etc, pacote completo.

Só que eles SEMPRE foram um site de notícias falsas, como o Sensacionalista e o Diário de Barrelas. As manchetes vão de “Capitólio terá cúpula retrátil para dias de Sol” a “Deus responde a orações de garotinho aleijado. ‘NÃO’, diz Deus”.

É comum veículos principalmente de fora dos EUA pautarem matérias do Onion como se fossem verdadeiras, e até o New York Times cai de vez em quando, mas minha esperança é que pérolas que são primor de sarcasmo como esse vídeo abaixo não sejam entendidas como verdadeiras.

O texto, como quase tudo que vem do Onion é genial: “Jovem branca será julgada como negro adulto”. Sem explicar (muito) a piada, o vídeo fala da decisão do tribunal, dada a seriedade do crime –a jovem teria matado uma amiga com golpes de chave de fenda- ela perderia o privilégio de ser julgada como uma americana branca jovem e bonita.

 

No depoimento do “pai” da acusada, a melhor sacada do texto: “Estamos nos EUA, ninguém merece ser tratado como um homem negro” e a “mãe” diz que “faremos tudo para que Hanna seja tratada com a simpatia e sensibilidade que ela, enquanto uma jovem branca fotogênica merece”.

Hoje a Internet se voltou contra o Onion, depois que este twit apareceu na timeline deles:

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Foi o começo de uma série de twits onde narraram uma situação de reféns no Congresso, onde os políticos haviam feito de refém um grupo de crianças e ameaçavam matar todas se não recebessem 12 trilhões de Dólares.

A cobertura prossegue, usando a tagline #CongressHostage, e está hilária, com direito a Obama de colete à prova de balas negociando com os deputados e senadores, que já estão dividindo quanto do dinheiro do resgate irá para cada Estado.

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A situação é obviamente surreal, mas não o suficiente. Várias pessoas repassaram a notícia como se fosse verdadeira, redes de TV foram acionadas e as autoridades tiveram que tranquilizar a população, explicando que é apenas uma brincadeira de um site de humor. Mesmo assim a Polícia do Capitólio está investigando o caso, minha santa Aquerupita.

A CNN já avisou que dedicará parte do programa de Wolf Blitzer hoje ao caso, do Mashable à Associated Press, todos reportam essa nãotícia.

No Twitter a fúria atingiu níveis históricos, tem gente pedindo a cabeça do site, se é que site tem cabeça. Tem <HEAD>, acho que serve.

As maiores acusações são de que não ESPECIFICARAM que é uma brincadeira, uma sátira, um chiste.

Calma. PÁRA TUDO. Os políticos do Poder Legislativo Federal se rebelam, fazem reféns e exigem dinheiro para seus Estados, e PRECISA ser dito que não é a sério?

Principalmente, O Onion é um site de humor especializado em noticias falsas. Se o @blogdoandroid posta uma resenha de uma aplicação, NÃO precisa indicar “é para Android, tá?”. Colocar “#joke” no final de um twit no perfil oficial do Onion seria útil para leitores beirando o retardo mental grave, mas soaria absolutamente desnecessário, e até uma atitude paternalista, do ponto de vista dos leitores com polegar opositor.

Que o mundo anda muito chato não é novidade, mas a que ponto chegamos, quando um site especializado em sátira não pode publicar uma… SÁTIRA?

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A prática de matar o mensageiro que traz más notícias não é nova, mas eu entendo que é preciso um mínimo de colaboração por parte do leitor. Um mínimo de discernimento, um mínimo de bom-senso. Não custa pensar “é um site de humor que só publica notícias falsas”.

Não dá para escrever seguindo o menor denominador comum, isso tornaria o resultado do trabalho intragável para a maioria do público. Também não dá para educar essa parcela comprometida intelectualmente, é tarde demais.

O que é preciso é parar de dar VOZ a esse tipo de reclamação. SIM, ISSO MESMO. Alguém tem que bater pé e dizer “NÃO! Você está sendo idiota, você NÃO tem razão em reclamar”.

Problema é que no mundo politicamente correto de hoje questionar a inteligência alheia é um pecado mortal,  o sujeito que acredita que Obama é um muçulmano do Quênia tem a mesma voz e o mesmo espaço que o sujeito que considera essa acusação digna de gente com QI de coisas que crescem no fundo de geladeiras.

“É uma piada, uma brincadeira, se você não entendeu ou não gostou, problema seu”. Foi a essência da resposta unânime do CONAR, que em raro momento de lucidez arquivou um conjunto de 300 reclamações – 280 feitas por HOMENS acusando a campanha “Mulheres Evoluídas” da Bombril de veicular “anúncios sexistas e discriminatórios contra homens”:

 

O nome disso é HUMOR, e é feito para quem acha engraçado, não para ofender. Quando é feito para ofender a gente chama de OFENSA. E ninguém ri.



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