Felipe Neto e a bolha na beira da banheira de Nutella

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Hoje meu baiano favorito chamou atenção para este texto do Felipe Neto no Facebook. Ele aponta para uma nova bolha, a dos youtubers que são cooptados para todo tipo de campanha. Youtuber hoje é o cachorro lambão do publicitário preguiçoso. Existe uma regra em propaganda: Se você não tem nenhuma boa idéia, enfie criança ou bicho. Não achou trilha boa? Enfie Queen. 

O mercado de licenciamento viu os youtubers como uma mina de ouro, resultou em coisas ridículas como moleques de 15 anos lançando biografias. Pior, lançando biografias com ghostwriters, e que eles sequer se deram ao trabalho de ler. Tudo bem, a maioria dos fãs que compram não leem também. Só que apenas uma minoria compra.

No texto o Felipe aponta para o fracasso de diversos filmes de youtubers, como Eu Fico Loko, Porta dos Fundos e Internet O Filme. Todos ficaram abaixo de 400 mil espectadores. O filme da Kéfera conseguiu 2 milhões. Por isso ele defende que a qualidade do conteúdo é essencial, e não se queima aceitando qualquer proposta, que são muitas.

Visto que eu consigo fazer com que você, querido leitor, faça doações para este blog (não se preocupe, prometo gastar tudo com hospedagem, mulheres rápidas e cavalos lentos) coisa que grandes veículos da imprensa não conseguem fazer, não posso discordar de que conteúdo de qualidade seja essencial, mas é apenas parte da equação, e há um complicador nesse caso, e para isso vamos falar de Young Justice, excelente e cancelada série da Warner:

Ela só durou duas temporadas e foi cancelada. Como quase todo desenho Young Justice era financiada pela indústria de brinquedos, no caso a Mattel. Paul Dini, criador da série deu uma entrevista atrapalhada a Kevin Smith onde resumiu dizendo que a série era muito assistida por meninas e os executivos não gostam disso, então cancelaram.

A Internet caiu de pau na época, executivos brancos machistas pirocos esTRUpadores misóginos, bla bla bla. Mas pensemos um pouco: Executivos não gostam de meninas assistindo Young Justice mas não ligam pra… Barbie? Pesquisando mais um pouco e fugindo da histeria descobrimos que a série foi cancelada por baixa venda de brinquedos. Sim, lamento informar mas o que mantém desenhos no ar são brinquedos por isso as séries duram 3 ou 4 temporadas no máximo.

A audiência de Young Justice era bem grande no segmento feminino, meninas gostam mais de histórias complexas, meninos retardados gostamos de porradaria e YJ tinha muito bate-papo pro nosso gosto aos 12 anos. Por isso a venda baixa.

“Ah mas era porque não tinha boneco das personagens femininas, WHERE IS RAY?”

Tinha sim. O problema era outro.

Young Justice tinha um enorme apelo no segmento feminino entre 13 e 17 anos, uma fase em que as meninas-moças estão fazendo tudo pra deixar de ser meninas, e se possível, deixar de ser moça também. Nessa fase elas ABOMINAM bonecas. Meninos curtem Action Figures (boneco é o cacete) mas meninas veem isso como algo que as prende à infância.

A Mattel não tinha interesse em licenciar outros produtos, é algo que traz pouco lucro e dá muito trabalho, só vale se você for uma marca muito, muito grande. Ela fabrica bonecos e quer vender bonecos, e Young Justice não vendia bonecos o suficiente.

Teen Titans Go, a versão despirocada dos Novos Titãs feita para um público mais jovem foi renovada para a quarta temporada, já tem 176 episódios e a Mattel está rindo à toa. Motivo? Vende horrores de brinquedos.

Boa parte do público dos Youtubers fica em um segmento que não detém poder de decisão de compra. Esse público consegue claro fazer compras pontuais, mas quantas vezes fora do período de volta as aulas você conseguiu convencer sua mãe a te comprar um caderno?

Se você tem escala e vende um produto premium consegue se sobressair. Para surpresa de muita gente o Felipe Neto viajou o Brasil com uma peça de teatro, lotando sala atrás de sala, coisas que a Record não conseguiu com seus Dez Mandamentos, mas ele não conseguiria vender geladeiras pro seu público.

A tal bolha dos Youtubers na verdade não é uma bolha. É apenas um mercado que como o Felipe diz em seu texto, não entendeu o digital. Pior, é um mercado que não entendeu o digital e nunca aprendeu o tradicional. E para ficar em família: Não tem a ver com credibilidade, o problema não é o público não levar a sério o cara que se enfia na banheira de Nutella. O problema é que quem assiste esse cara não tem dinheiro pra comprar Nutella.


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