O Contraditorium acabou.

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É isso mesmo que você leu, mas se for um leitor das antigas, você não se surpreendeu. Internamente aposto que sua reação foi igual a minha: Eu já sabia, morreu faz tempo, a ficha só não havia caído.

Este blog tem 14 anos, está virando mocinha, e não se reconhece mais no espelho. Não, não está ruim, está diferente, e o mais grave: Não está como eu imaginei que estaria.

O Contraditorium já foi listado como um dos melhores blogs do Brasil, seus leitores são intelectuais, capitães de indústria, políticos, ele me abriu portas inacreditáveis e foi reconhecido por gente que eu nunca esperaria que chegasse perto do meu bloguinho, isso tudo não graças ao Buraco da Beatriz.

As matérias que muita gente -eu incluso- gosta, as histórias de superação, coragem, inventividade, que hoje são a marca registrada do blog são apenas um sintoma de algo que aconteceu comigo, e é exemplificado por este sujeito aqui:

Jay Leno foi por muitos anos um dos maiores, talvez o mais popular apresentador de talk show nos EUA. Todo mundo ia no Jay Leno, todo mundo gostava do Jay Leno, ele não comprava briga com ninguém, não falava nada controverso. Por outro lado, Leno não tinha substância nenhuma.

E sim, estou fazendo uma referência direta ao primeiro episódio de The Newsroom, onde Will McAvoy é chamado de “Jay Leno do Jornalismo”, popular porque não incomoda ninguém. A cena como um todo é magistral:

Eu sei, eu sei, eu adoro bater boca no Twitter, mas é sempre alguma bobagem superficial, aqui no blog, que é importante, eu não faço mais isso. Foi-se o tempo em que eu denunciava banners superfaturados no Senado, escrevia sobre educação, política, religião, emitia opiniões realmente controversas.

Hoje? Se você reparar meus posts mais ousados defendem opiniões que 50% da Humanidade concordam, e o resto? Bem, o resto são o que o jornalismo soft chama de histórias de interesse humano, eu virei a parte do Fantástico que passa antes da Reportagem-Denúncia da Semana.

Você, querida leitora, querido leitor (viu, retardado de Humanas, ninguém precisa de “leitorx”) percebeu isso também, e percebeu que eu venho deixando o blog de lado, fazendo poucos textos que não ofendem, provocam, instigam ninguém.

Sim, é claro que as histórias são ótimas, mas cadê o Cardoso nelas, cadê a insatisfação, cadê o Contraditório, cadê aquela espetada que tira o leitor da zona de conforto? Eu deixei de ser South Park e virei Bob Esponja.

Eu tenho adiado a minha entrada no mundo do vídeo e do podcast, muita gente vem cobrando isso, e eu não sabia responder o motivo, mas agora a ficha caiu: Eu não quero me aporrinhar. Sim, eu estou com medo, eu vejo a onda de negatividade e a Cancel Culture e me encolho, me fechei em algo que sempre critiquei, uma bolha, com fiéis leitores que gostam do pouco que escrevo, mas por causa disso, meu crescimento estagnou.

Eu posso fazer diferença, eu posso contar histórias magníficas, posso cutucar o cérebro dos leitores, mexer com expectativas e opiniões estabelecidas, mas optei por não fazer isso, e em consequência meu trabalho foi afetado, meu querido blog virou o Domingo Legal.

O Contraditorium como ele é hoje não é mais motivo de orgulho para mim, eu mesmo não sou motivo de orgulho para mim, por isso que decidi decretar: O Contraditorium como ele é, morre hoje. AVADA KEDAVRA!

É uma decisão que me pesa muito, vai exigir mais de mim do que estou acostumado a dar (epa!) tem um bom tempo, mas é inevitável. Chega de Contraditorium bonzinho, chega de blog tão inofensivo que nem tem haters (isso sim um péssimo sinal).

O Blog que você estava acostumado nos últimos anos MOR-REU, ele vai voltar aos bons tempos!

Isso mesmo, queridos leitores e queridos haters aposentados: O Contraditorium vai voltar ao que era, vai ser um blog muito mais opinativo, muito mais complicado e muito mais incômodo, voltarei a fazer as matérias que até gente que discorda vinha elogiar dizendo que “fez pensar”, e nas palavras de um certo ex-Presidente, escreverei o que acho, “duela a quien duela”.

O Contraditorium do Jay Leno morre hoje. Amanhã renasce o Contraditorium do Cardoso.



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