Liliana Gasinskaya – fugiu do comunismo com a roupa do corpo e acabou peladona

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Winston Churchill dizia que a União Soviética era uma charada, embrulhada em um enigma, dentro de um mistério. É verdade. Quase nada saía de lá, tínhamos pouquíssimas informações sobre o dia-a-dia de suas várias repúblicas, e a interação era ainda mais difícil, pela dificuldade dos cidadãos soviéticos em sair do país.

A URSS, como todo paraíso socialista, proibia viagens ao exterior exceto para alguns privilegiados, e cercava suas fronteiras com muros e guardas armados, para evitar que seus cidadãos fugissem daquela maravilhosa utopia que o PCO tanto ama. 

Maravilhas do Socialismo…

Mesmo assim o país não era todo fechado, havia até uma pequena indústria de turismo externo, somente para membros privilegiados do Partido Comunista, claro. Essa indústria era controlada pela Black Sea Shipping Company, uma empresa fundada na Rússia Imperial, estatizada durante a revolução comunista e responsável por todo o comércio exterior da União Soviética, além de fazer fretamentos para o mundo todo. 

Eles chegaram a ser a maior empresa de navegação do mundo, nos anos 80, e entre seus mais de 250 navios, havia navios de cruzeiro, que partiam do Mar Negro e faziam várias rotas, indo parar até na Austrália. Foi em um desses navios, o SS Leonid Sobinov que nossa história começou.

♫the love boat…♫ não, péra.

Apesar de ser um paraíso do proletariado, sem classes sociais distintas, nenhum russo de alta classe aceitaria fazer trabalhos manuais, então o navio precisava de uma tripulação que incluía garçons, cozinheiros, arrumadeiras, etc. Nisso entra Liliana Gasinskaya.

Ela nasceu na União Soviética, treinava para ser uma ginasta, mas aos nove anos foi atropelada e teve que mudar de carreira. Crescendo fazendo trabalhos menores, Liliana logo se desiludiu com o comunismo. Nunca ficou claro o motivo, mas ela apenas odiava o regime político de seu país. Não a ponto de virar dissidente, espiã ou algo assim, mas a ponto de planejar a longo prazo sua fuga.

Ela começou a estudar para ser aeromoça de navio, ou seja lá como se chama a profissão, e após provar ser uma boa comunista, conseguiu emprego no SS Leonid Sobinov. Ser escolhida para uma vaga que a levava ao exterior era algo raro e complicado, um monte de verificações eram feitas pela KGB, mas no caso de Liliana, não acharam nada desabonador.

Só que ela já estava com tudo planejado. Nas várias viagens que fez ela foi advertida por conversar com passageiros estrangeiros, que eram o foco do Sobinov, pois traziam moeda forte para a União Soviética. Ela chegou a ter seu privilégio de descer em portos estrangeiros revogado, mas isso não deteu Liliana.

Em janeiro de 1979 o Leonid Sobinov estava ancorado na Baía de Sidney, Austrália. Na noite do dia 14 ela declinou o convite para uma festa a bordo, dizendo estar com dor de cabeça. Seus colegas de cabine só repararam que ela não estava mais lá no dia seguinte. 

Os agentes da KGB a bordo reviraram os pertences de Liliana, ela havia deixado tudo para trás, inclusive um papel em inglês com as palavras “abrigo”, “asilo” e “político”. Ela estava claramente treinando como pedir ajuda, o que por si só era complicado. O governo australiano tinha por tradição deportar sem muita burocracia refugiados que apareciam em suas costas. 

A sorte de Liliana é que ela escolheu bem como chegar em grande estilo. 

Pulando na água usando apenas um biquíni vermelho, ela nadou até o porto, onde chegou toda machucada por causa das pedras, exausta e apavorada. Deu de cara com um fotógrafo passeando com seu cachorro, e com todo seu amor cristão altruísmo e abnegação, ele decidiu acolher aquela russa, gatinha, de 18 anos, de biquíni e levou-a para casa.

Sorte dela, a KGB já estava nas ruas com fotos de Liliana, ajudada pelos agentes do Consulado soviético e da polícia local. Só que nem mesmo a KGB consegue superar um bom jornalista de fofocas, e o Daily Mirror conseguiu localizar Liliana primeiro. 

Removida para uma localização secreta, a história suculenta da suculenta russinha ganhou as páginas do jornal, com direito a fotos dela usando o agora famoso biquíni vermelho. Ela alegava estar fugindo da opressão na União Soviética, e pedia asilo. No Leonid Sobinov a reputação de Liliana já estava sendo destruída no comitê da Juventude Comunista a bordo. 

Foi votada sua expulsão e Liliana foi declarada “Uma pessoa inferior e desnecessária para a sociedade”.  Certeza que ela nem dormiu por causa disso. 

Ou melhor, ela perdeu o sono, sim, por causa da real possibilidade de ser deportada, mas a opinião pública estava toda do seu lado, e depois de muita discussão, Liliana Gasinskaya ganhou asilo na Austrália.

Jovem bonita e de biquíni, prato cheio pra imprensa. Sexo vende mais do que sangue!

Ela declarou que queria fazer curso de modelo e virar atriz, mas sua primeira proposta foi bem mais tentadora: Ela foi convidada para ser capa da edição inaugural da Penthouse na Austrália, recebendo AU$15 mil, equivalente hoje a AU$74,874.61, ou US$56,203.50 em dólares de verdade em 2022.

Liliana nunca viu tanto dinheiro na vida, e como pra quem só tinha um biquíni dali pra ficar peladona era um pulo, ela topou na hora. 

Não, eu não vou postar as fotos da Liliana nua pelada sem roupa. Este blog preza pelos bons costumes, respeito e é contra todo tipo de machismo, sexismo e objetificação. Além do mais esse cara aqui já postou todas e é mais fácil pra mim só linkar.

Ela acabou se casando com um fotógrafo do Daily Mirror, o que foi um certo escândalo, ele deixou a esposa e três filhos pra ficar com a russinha peladona, e a brigada moralista caiu de pau, havia gente discutindo se “esse era o tipo de imigrante que o país queria”, mas sendo realista, quem não quer uma coelhinha da Penthouse vindo morar em seu país? Muitos alegaram que ela só ganhou asilo por ser jovem e bonita. Muito provavelmente é verdade.

Liliana trabalhou como DJ e fez algumas pontas em séries de TV, mas nunca se tornou uma atriz famosa.

Tempos depois Liliana se separou do fotógrafo, casou com Ian Hayson, um investidor imobiliário em 1984, mas se separaram em 1990. De lá para cá ela sumiu da vida pública. Ela tem um perfil no Twitter que não é tocado desde 2015. Seu perfil no Facebook só tem atualizações da capa, a última em janeiro de 2022. Pelo visto Liliana não gosta muito de redes sociais. Não a culpo.

Na União Soviética, de forma atípica a investigação sobre a deserção de Liliana foi encerrada sem muita fanfarra. Ao invés de Traição, crime punido com 10 a 15 anos de prisão ou execução, ela foi acusada de viajar ilegalmente para o exterior, o que dá 3 anos de gulag, “só”. 

Uma moça deveras edificante.

Quanto à tripulação do SS Leonid Sobinov, ela foi dissolvida, todo mundo sendo realocado para posições de menos prestígio nas frotas locais. 

Liliana teve sua cidadania soviética cancelada, mas morando em Londres, ela viu de camarote o fim da União Soviética, em 26 de Dezembro de 1991. 

Como bônus, recomendo o dossiê da KGB sobre Liliana, um lindo exemplo de como a União Soviética praticava a destruição de reputações, pintando seus dissidentes com as piores cores possíveis, mas quer saber, URSS? Apelou perdeu, e a peladona riu por último.



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