Descobri por que eu e o Paulo Coelho não vendemos nenhum eBook

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Eu fiz várias apostas erradas na vida, mas se há uma que perdi feio, de dar com a cara no chão foram os leitores de ebooks. Eu sei. Você tem um. Eu também. Já quebrei dois Kindles e acabo de comprar o terceiro, é incrivelmente prático, mas nós somos exceção e quando previ o sucesso avassalador desses equipamentos, vi sob o ponto de vista de geek, não de consumidor normal.

A realidade é que os números são cruéis. Em 2016 no Reino Unido as vendas dos livros físicos cresceram 7%, enquanto ebooks caíram 17%. Nos Estados Unidos a queda chega a 18.7% e os livros físicos brochura subiram 7.5%. 

Racionalmente isso não faz sentido. Todo mundo esperava um efeito avassalador, semelhante ao que aconteceu com a música digital. Discmen morreram de um dia para o outro, depois de abarrotar seus celulares as pessoas começaram a usar serviços de streaming para acessar milhões de músicas. Como um Kindle, carregando centenas de livros não tem a mesma atração?

A resposta é simples: A psicologia é completamente diferente. O meio físico sempre foi um incômodo pelo qual passávamos para chegar na música. Nós queremos o som. Colocamos a fita, o disco, o cartucho de 8 pistas para tocar e ouvimos. O maior audiófilo do mundo, daquele que se masturba pra anúncios de cabos de US$1000,00 se preocupa com o som, não com a fita girando dentro do deck.

Já o livro é algo que manipulamos durante toda a leitura. Racionalmente sabemos que compramos as palavras, não o papel, mas emocionalmente é impossível dissociar um do outro. Muita gente pede que eu volte a publicar livros físicos para poder dar de presente. De novo, racionalmente não faz sentido, mas pense bem: Qual a graça de dar um ebook de presente?

Uma das cenas mais lindas d’A Bela e a Fera é quando a Fera presenteia a Bela com sua biblioteca. Milhares e milhares de livros em estantes até o teto impossivelmente alto. uma biblioteca linda como o Real Gabinete Português de Leitura. Você acha que a cena teria uma fração do mesmo impacto se a Fera desse de presente algo assim?

Ao contrário de música para livros quantidade não é vantagem. Pessoas normais leem um livro de cada vez, não é algo que pese horrores na bolsa ou na mochila. Pombas, nós somos adestrados durante a infância a carregar toneladas de livros para todo lado, um só é tranquilo.

Livros podem ser emprestados, manuseados e expostos. Você pode deixar um livro em sua mesa e ir ao banheiro, ele não será roubado. Não há registros de ladrões levando livros de passageiros em ônibus, mas duvido que um vá deixar um Kindle para trás.

O argumento do preço é outro a ser levado em consideração. Psicologicamente não há como um ebook custar o mesmo que um livro físico. Nós sabemos que o autor é a parte mais importante (né? né?) mas ao colocar o ebook no mesmo preço que o livro de papel nós nos sentimos roubados, afinal… não tem papel. São apenas elétrons em um chip de memória. EU SEI que o conteúdo é o mais importante, mas nós não evoluímos para precificar o intangível. E sim há ganância das editoras no pacote.

Talvez a nova geração tenha mais desapego, pode ser que o ebook finalmente ganhe seu espaço e o livro físico se torne artigo de luxo para saudosistas, como o vinil é hoje em dia, mas eu não apostaria nisso. Minha conclusão é que eu estava totalmente errado. O ebook não vai dominar o mundo, por mais prático e eficiente que seja será sempre uma lasanha de microondas. Mesmo quem come sabe que o negócio de verdade é muito mais gostoso.



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